No dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu com poder sobre os
Apóstolos; teve assim início a missão da Igreja no mundo. O próprio
Jesus tinha preparado os Onze para esta missão aparecendo-lhes várias
vezes depois da sua ressurreição (cf. Act 1, 3). Antes da ascensão ao
Céu, ordenou que "não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem
que se cumprisse a promessa do Pai" (cf. Act 1, 4-5); isto é, pediu que
permanecessem juntos para se prepararem para receber o dom do Espírito
Santo. E eles reuniram-se em oração com Maria no Cenáculo à espera do
acontecimento prometido (cf. Act 1,14).
Permanecer juntos foi a condição exigida por
Jesus para receber o dom do Espírito Santo; pressuposto da sua concórdia
foi uma oração prolongada. Desta forma, encontramos delineada uma
formidável lição para cada comunidade cristã. Por vezes pensa-se que a
eficiência missionária dependa principalmente de uma programação atenta e
da sucessiva inteligente realização mediante um empenho concreto.
Sem dúvida, o Senhor pede a nossa colaboração,
mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua iniciativa: é o
seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes do nosso ser
e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus.
As
imagens que São Lucas usa para indicar o irromper do Espírito Santo o
vento e o fogo recordam o Sinai, onde Deus se tinha revelado ao povo de
Israel e lhe tinha concedido a sua aliança (cf. Êx 19, 3ss). A festa do
Sinai, que Israel celebrava cinquenta dias depois da Páscoa, era a festa
do Pacto. Falando de línguas de fogo (cf. Act 2, 3), São Lucas quer
representar o Pentecostes como um novo Sinai, como a festa do novo
Pacto, na qual a Aliança com Israel se alarga a todos os povos da Terra.
A Igreja é católica e missionária desde a sua origem. A universalidade
da salvação é significativamente evidenciada pelo elenco das numerosas
etnias a que pertencem todos os que ouvem o primeiro anúncio dos
Apóstolos (cf. Act 2, 9-11).
O Povo de Deus, que tinha
encontrado no Sinai a sua primeira configuração, hoje é ampliado a ponto
de não conhecer qualquer fronteira de raça, cultura, espaço ou tempo.
Diferentemente do que tinha acontecido com a torre de Babel (cf. Jo 11,
1-9), quando os homens, intencionados a construir com as suas mãos um
caminho para o céu, tinham acabado por destruir a sua própria capacidade
de se compreenderem reciprocamente. No Pentecostes o Espírito, com o
dom das línguas, mostra que a sua presença une e transforma a confusão
em comunhão. O orgulho e o egoísmo do homem geram sempre divisões,
erguem muros de indiferença, de ódio e de violência.
O Espírito
Santo, ao contrário, torna os corações capazes de compreender as línguas
de todos, porque restabelece a ponte da comunicação autêntica entre a
Terra e o Céu. O Espírito Santo é Amor.
Mas como entrar no
mistério do Espírito Santo, como compreender o segredo do Amor? A página
evangélica conduz-nos hoje ao Cenáculo onde, tendo terminado a última
Ceia, um sentido de desorientação entristece os Apóstolos. A razão é que
as palavras de Jesus suscitam interrogativos preocupantes: Ele fala do
ódio do mundo para com Ele e para com os seus, fala de uma sua
misteriosa partida e há muitas outras coisas ainda para dizer, mas no
momento os Apóstolos não são capazes de carrregar o seu peso (cf. Jo 16,
12). Para os confortar explica o significado do seu afastamento: irá
mas voltará; entretanto não os abandonará, não os deixará órfãos.
Enviará o Consolador, o Espírito do Pai, e será o
Espírito que dará a conhecer que a obra de Cristo é obra de amor: amor
d'Ele que se ofereceu, amor do Pai que o concedeu.
É este o
mistério do Pentecostes: o Espírito Santo ilumina o espírito humano e,
revelando Cristo crucificado e ressuscitado, indica o caminho para se
tornar mais semelhantes a Ele, isto é, ser "expressão e instrumento do
amor que d'Ele promana" (Deus caritas est 33).
Nenhum comentário:
Postar um comentário